Estudo revela grande extensão de bancos de macroalgas na costa do Espírito Santo e seu papel no sequestro de carbono

Um estudo pioneiro conduzido pelo Grupo de Ecologia Bentônica da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), financiado pelo Programa de Longo Prazo de Pesquisa Ecológica – Habitats Costeiros do Espírito Santo (Peld/HCES), demonstrou pela primeira vez a ampla presença de bancos de macroalgas na costa capixaba, destacando sua importância para o sequestro de carbono e o equilíbrio ecológico marinho.

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A pesquisa, desenvolvida como projeto de iniciação científica pelo estudante André Vassoler, do quinto ano de Oceanografia, sob a orientação do professor Angelo Bernardino, teve como área de coleta principal a Área de Proteção Ambiental (APA) Costa das Algas, no município de Aracruz. Essa região é reconhecida pela elevada riqueza e biomassa de macroalgas típicas do Atlântico Tropical. Além das coletas in loco, o estudo utilizou imagens de satélite para mapear a presença desses organismos ao longo de todo o litoral do Espírito Santo .


Principais descobertas

  • Extensão dos bancos de macroalgas: O mapeamento identificou 527 hectares de bancos de macroalgas na zona costeira capixaba, área equivalente a cerca de 750 campos de futebol. Esses bancos são predominantemente compostos por macroalgas do gênero Sargassum.
  • Estoque de carbono: A pesquisa realizou a primeira estimativa de carbono ecossistêmico armazenado nesses bancos, encontrando uma média de 1,6 tonelada de carbono por hectare. A presença das macroalgas eleva em 30% os estoques de carbono em comparação com áreas sem esses bancos, evidenciando seu papel como importante reservatório de carbono e alimento para a fauna marinha.
  • Impacto ambiental: O estoque total de carbono acumulado nos bancos de macroalgas da costa capixaba é estimado em 870 toneladas. Caso esses bancos fossem perdidos, isso resultaria na emissão de mais de 3 mil toneladas de gás carbônico para a atmosfera, o que equivale às emissões anuais de aproximadamente 700 carros movidos a gasolina.
  • Conservação e planejamento: Grande parte desses bancos está localizada fora das unidades de conservação, o que indica a necessidade de incorporar essas áreas no planejamento costeiro estadual e federal para garantir a preservação desses ecossistemas ricos em biodiversidade.


Comparação com manguezais

O estudo também comparou o potencial de sequestro de carbono das macroalgas com o dos manguezais, ecossistemas reconhecidos pelo seu alto armazenamento de carbono azul. Segundo o professor Angelo Bernardino, as macroalgas armazenam menos carbono azul do que os bosques de manguezal e não aumentam o carbono retido no solo. Isso sugere que, embora importantes para o sequestro de carbono na coluna d’água e biomassa, as macroalgas têm um papel limitado na mitigação dos gases de efeito estufa em comparação com os manguezais, contrariando algumas pesquisas anteriores.


Contexto da biodiversidade local

Além do estudo sobre o sequestro de carbono, pesquisas complementares indicam que o litoral do Espírito Santo possui uma diversidade significativa de macroalgas, com mais de 400 espécies registradas, incluindo algas vermelhas, verdes e pardas. A região apresenta sazonalidade na diversidade das algas arribadas nas praias, com maior diversidade durante o período chuvoso. Algumas espécies, como Sargassum stenophyllum e Sargassum vulgare, apresentam estruturas reprodutivas, o que é relevante para a manutenção das populações locais.

Este estudo reforça a relevância das macroalgas como componentes essenciais dos ecossistemas costeiros do Espírito Santo, tanto para a biodiversidade quanto para o sequestro de carbono, contribuindo para a mitigação das mudanças climáticas. A inclusão dessas áreas em políticas de conservação e manejo sustentável é fundamental para proteger esses ecossistemas e seus serviços ambientais.

Para fortalecer a conservação e o uso sustentável das macroalgas, recomenda-se que órgãos ambientais e gestores públicos considerem esses dados no planejamento costeiro e promovam ações que garantam a proteção desses bancos, especialmente os que estão fora das unidades de conservação.

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