O Projeto Disbio e a Inovação em Biodefensivos
O desenvolvimento de biodefensivos agrícolas sustentáveis a partir de compostos naturais está ganhando força no Brasil com o projeto Disbio. Liderada pela Unidade Embrapii Instituto Senai de Inovação em Biossintéticos e Fibras (ISI B&F), a iniciativa conta com orçamento robusto de R$ 15 milhões, recursos obtidos por meio de financiamento da Embrapii através do modelo Basic Funding Alliance (BFA). O projeto não caminha sozinho em sua jornada científica, tendo como coexecutor estratégico a Unidade Embrapii Instituto Senai de Inovação em Biomassa (ISI Biomassa), formando uma parceria que fortalece o caráter multidisciplinar da pesquisa.
A iniciativa tem objetivos claramente definidos e alinhados com as necessidades da agricultura contemporânea, que busca métodos mais sustentáveis de proteção às lavouras. O foco principal está no controle de pragas consideradas extremamente prejudiciais às culturas de soja e milho, como a lagarta-do-cartucho e o percevejo marrom, além de fungos fitopatogênicos que causam doenças como a ferrugem asiática e a mancha-alvo na cultura da soja. Estas pragas e doenças representam desafios constantes para os produtores brasileiros, resultando em perdas significativas de produtividade quando não controladas adequadamente.
A proposta do Disbio transcende a simples criação de produtos alternativos, buscando desenvolver “soluções biológicas eficazes e ambientalmente seguras” que possam substituir ou ao menos reduzir substancialmente o uso de agrotóxicos convencionais. Esta abordagem coloca o projeto na vanguarda da pesquisa aplicada em biodefensivos no Brasil, país que caminha para se tornar referência mundial no uso de insumos biológicos na agricultura.
O Potencial das Macroalgas na Agricultura Sustentável
As macroalgas têm despertado crescente interesse no setor agrícola devido às suas notáveis propriedades bioativas que oferecem múltiplos benefícios às culturas. Esses organismos marinhos demonstram potencial para aplicações que vão desde a fertilização e bioestimulação até o controle efetivo de pragas, constituindo alternativas promissoras para a substituição gradual de produtos químicos convencionais. A busca por soluções sustentáveis que reduzam o impacto ambiental da agricultura intensiva tem impulsionado pesquisas relacionadas às aplicações agrícolas tanto de microalgas quanto de macroalgas.
Entre as macroalgas mais estudadas e com resultados comprovados está a Ascophyllum nodosum, que tem demonstrado efeitos significativamente positivos no desempenho das plantas, especialmente em condições de estresse ambiental. Extratos desta alga têm sido amplamente aplicados em diversas culturas agrícolas, proporcionando maior resistência das plantas a condições adversas como seca ou excesso de salinidade no solo. O fortalecimento do sistema imunológico vegetal resulta em maior vigor das plantas e aumento na resistência natural a pragas e doenças, reduzindo a necessidade de intervenções químicas.
No universo das microalgas, espécies como Chlorella e Arthrospira (mais conhecida como Spirulina) têm apresentado resultados expressivos quando aplicadas em culturas como alface, tomate e pimentão. Pesquisas indicam que estas microalgas promovem melhor germinação das sementes, aumento significativo de produtividade e maior capacidade de resistência a estresses hídricos e térmicos. Estes benefícios são particularmente relevantes no contexto atual de mudanças climáticas, onde eventos extremos se tornam cada vez mais frequentes e impactantes para a agricultura.
Mecanismos de Ação e Aplicações Práticas

O potencial das algas como biodefensivos reside na rica composição bioquímica destes organismos. As macroalgas contêm diversos compostos bioativos como polissacarídeos, aminoácidos, polifenóis e hormônios vegetais que, quando aplicados às culturas, desencadeiam mecanismos naturais de proteção nas plantas. Estes compostos podem atuar diretamente sobre os patógenos ou pragas, ou indiretamente, estimulando os mecanismos de defesa próprios das plantas.
O segmento de biossoluções, que inclui os biodefensivos derivados de algas, abrange insumos agrícolas desenvolvidos com ingredientes ativos de origem natural, que vão desde extratos de algas até micro-organismos especificamente selecionados. A descoberta contínua de novos compostos bioativos e o aprimoramento nas técnicas de cultivo e extração têm expandido significativamente as possibilidades de utilização destes organismos marinhos como bioestimulantes e biopesticidas eficazes para a agricultura moderna.
Fonte: Globo Rural
Brasil na Vanguarda do Uso de Bioinsumos
O Brasil tem se destacado globalmente no campo dos bioinsumos, posicionando-se como um potencial líder mundial na utilização destes produtos ainda nesta década. Enquanto o país continua sendo um dos maiores importadores de defensivos e fertilizantes químicos do mundo, paradoxalmente desponta também como um dos líderes globais na produção e adoção de alternativas biológicas para a proteção de culturas. Esta dualidade representa tanto um desafio quanto uma oportunidade para o setor agrícola brasileiro.
Dados oficiais do Ministério da Agricultura, obtidos com exclusividade pela Globo Rural, revelam um cenário promissor: até o primeiro semestre de 2023, o Brasil já liderava o ranking mundial de adoção de defensivos biológicos, com presença em mais de 55% das lavouras. Este índice supera significativamente os percentuais observados na União Europeia (23%) e na China (8%), outros importantes produtores agrícolas. A liderança brasileira se estende também à adoção de biofertilizantes, com 36% de penetração, comparados a 25% na União Europeia e 22% na China.
O crescimento do mercado de biodefensivos no Brasil tem sido exponencial nos últimos anos. Na safra 2020/2021, este segmento movimentou R$ 1,3 bilhão, representando um aumento de 37% em relação aos R$ 948 milhões do ciclo anterior. Entre 2018 e 2022, a taxa de crescimento anual chegou a impressionantes 62%, segundo dados da CropLife Brasil (CLB). Em 2023, o mercado alcançou R$ 4 bilhões, com crescimento superior a 30% em relação ao ano anterior.
Casos de Sucesso na Aplicação de Bioinsumos
A experiência de agricultores pioneiros como Rogério Vian ilustra o potencial transformador dos bioinsumos na realidade produtiva brasileira. Cultivando grãos em 750 hectares nos municípios goianos de Mineiros e Caiapônia, Vian adotou o manejo biológico desde 2005 e hoje compartilha sua experiência de quase duas décadas em palestras sobre o tema. Em suas lavouras de soja, que ocupam 50% de sua área total, ele mantém uma produtividade média de 60 sacas por hectare, com um custo de produção de cerca de 30 sacas por hectare, mesmo em anos com condições climáticas adversas.
“Em ano mais complicado, como esse que passou com o El Niño, a gente segura a média de produtividade apenas com biológicos. Só uso químico em situação pontual”, afirma Vian, destacando a estabilidade produtiva proporcionada pelo manejo biológico. Esta experiência reforça que os bioinsumos, incluindo aqueles derivados de algas, não representam apenas alternativas ecologicamente responsáveis, mas também economicamente viáveis e resilientes frente aos desafios climáticos crescentes.
Perspectivas e Desafios para os Biodefensivos de Algas
O projeto Disbio se insere em um contexto de crescente interesse e investimento em bioinsumos no Brasil. Em janeiro de 2025, segundo os dados mais recentes disponíveis, o Ministério da Agricultura registrava a existência de 666 produtos biológicos à disposição dos agricultores brasileiros, um número expressivo quando comparado à escassez de opções comerciais há menos de duas décadas. Este crescimento na oferta de produtos biológicos reflete tanto a demanda do mercado quanto os avanços científicos na área.
A expansão dos biodefensivos derivados de algas e outros organismos marinhos enfrenta, contudo, desafios significativos. O principal deles, conforme apontado por agricultores experientes, é o período de transição do manejo químico convencional para um sistema híbrido e, eventualmente, totalmente biológico. Este processo pode levar de dois a três anos e demanda não apenas adaptações técnicas, mas também suporte financeiro e conhecimento especializado.
Reginaldo Minaré, diretor-executivo da Associação Brasileira de Bioinsumos (Abbins), ressalta outro desafio importante: a necessidade de “destravar o limbo jurídico” em que o país se encontra em relação à regulamentação dos bioinsumos. A criação de um ambiente regulatório claro e favorável é crucial para estimular novos investimentos em pesquisa e desenvolvimento, bem como para facilitar a adoção destas tecnologias por um número crescente de produtores.
Regionalização e Adaptação dos Biodefensivos
Uma perspectiva promissora apontada por especialistas é a possibilidade de regionalização do tratamento das safras com bioinsumos, incluindo aqueles derivados de algas. Conforme observado pelo produtor Rogério Vian, presidente do GAAS Goiás (grupo associado à agricultura sustentável): “Com tantas mudanças climáticas, se começarmos a atuar por região, poderemos adaptar as práticas e ter resultados melhores com os grupos de microrganismos existentes em cada uma delas”.
Esta abordagem regionalizada poderia potencializar ainda mais a eficácia dos biodefensivos derivados de algas, considerando as variações ecológicas e agrícolas de um país continental como o Brasil. A adaptação de produtos e práticas às condições específicas de cada região produtora representa uma fronteira promissora para a pesquisa e aplicação de bioinsumos.
Fonte: Globo Rural
Um Futuro Mais Verde para a Agricultura Brasileira
O projeto Disbio, com seu foco no desenvolvimento de biodefensivos a partir de macroalgas, se insere em uma revolução silenciosa que está transformando a agricultura brasileira. A utilização de algas e outros organismos marinhos como fonte de compostos bioativos para a proteção de culturas agrícolas representa não apenas uma alternativa ecologicamente sustentável, mas também uma oportunidade estratégica para o Brasil reduzir sua dependência de insumos importados e fortalecer sua posição como líder global em práticas agrícolas inovadoras.
Os avanços científicos em curso, aliados à crescente conscientização dos produtores e consumidores sobre a importância de práticas agrícolas mais sustentáveis, criam um cenário propício para a expansão dos biodefensivos derivados de algas. O Brasil, com sua biodiversidade ímpar e seu robusto setor agrícola, encontra-se em posição privilegiada para liderar esta transição para uma agricultura mais equilibrada e resiliente.
Para conhecer mais sobre os biodefensivos derivados de algas e como eles podem beneficiar sua produção agrícola, entre em contato com a Cia das Algas e descubra como a Kohua Biotec participa ativamente em nosso braço de inovação. Nossos especialistas estão prontos para orientar você na implementação de soluções sustentáveis como o Netuno Bio® que aumenta a produtividade, reduz o impacto ambiental e aumenta resistência ao estresse abiótico de sua lavoura.