Algas marinhas: a nova fronteira para reduzir emissões de metano na pecuária

Pesquisas internacionais e nacionais apontam que a inclusão de algas marinhas na dieta de bovinos pode reduzir em até 80% as emissões de metano, sem comprometer a produtividade ou a qualidade da carne e do leite. O desafio agora é viabilizar a produção em escala e adaptar a tecnologia à realidade do campo brasileiro.

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A busca por soluções inovadoras para mitigar as mudanças climáticas tem levado cientistas e produtores rurais a um aliado improvável: as algas marinhas. Estudos recentes demonstram que a suplementação da dieta de bovinos com determinadas espécies de algas pode reduzir drasticamente a emissão de metano, um dos gases de efeito estufa mais potentes e cuja principal fonte na agropecuária é o arroto dos ruminantes 1 2 3.


Como as algas reduzem o metano

A espécie de alga mais estudada para esse fim é a Asparagopsis taxiformis, uma alga vermelha que, quando adicionada em pequenas quantidades à ração (cerca de 80 gramas diárias), inibe uma enzima fundamental no processo digestivo responsável pela produção de metano no rúmen dos bovinos 1 2. O mecanismo de ação consiste em bloquear a conversão de CO₂ e H₂ em metano, reduzindo significativamente a liberação do gás sem afetar o metabolismo do animal.


Resultados expressivos em diferentes sistemas de produção

Os resultados são animadores: em experimentos conduzidos na Fazenda de Laticínios Straus, no Condado de Marin, Califórnia, testou o uso de Asparagopsis taxiformis, uma alga vermelha, na ração para gado. A redução das emissões de metano chegou a 80-90% em algumas vacas, sem alteração no ganho de peso ou na qualidade sensorial da carne e do leite 5. Estudos mais recentes também demonstraram eficácia em sistemas de pasto, com reduções próximas a 40% mesmo em condições extensivas, que representam a maior parte da pecuária brasileira 3 4.

No Brasil, pesquisas conduzidas pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) já apontam para reduções de até 60% nas emissões em animais criados a pasto, reforçando o potencial da tecnologia para a realidade nacional 4. O estudo recebeu aporte financeiro do empresário Bill Gates, cofundador da maior empresa de softwares do mundo, a Microsoft. O empresário é conhecido pela forte atuação em causas humanitárias e climáticas.


Sustentabilidade e desafios de escala

Além do impacto direto na mitigação das emissões, o uso de algas marinhas como suplemento alimentar traz benefícios adicionais, como a oferta de nutrientes, vitaminas e compostos bioativos que podem melhorar a saúde animal e a produtividade. A produção sustentável de algas, inclusive a partir de espécies nativas e de algas arribadas (depositadas naturalmente nas praias), já é uma realidade em regiões do Nordeste brasileiro, como mostra a atuação da Cia das Algas, que explora bancos naturais de algas de forma ambientalmente responsável e com geração de renda local.

O principal desafio para a adoção em larga escala está na disponibilidade da biomassa de algas, já que a demanda global supera a oferta natural. Por isso, pesquisadores e empresas investem em sistemas de cultivo em mar aberto e em terra, além do desenvolvimento de métodos para estabilizar e transportar o produto até os centros de produção pecuária 1 2.


Perspectivas para o futuro da pecuária

A inclusão de algas marinhas na dieta animal surge como uma das estratégias mais promissoras para tornar a produção de carne e leite mais sustentável, contribuindo para o cumprimento das metas globais de redução de gases de efeito estufa, como as estabelecidas na COP 26 4. O Brasil, detentor de uma das maiores biodiversidades de algas do mundo, está bem posicionado para liderar essa transformação, desde que supere os desafios logísticos e regulatórios.

“Apenas uma pequena fração da Terra é adequada para a produção agrícola e muito mais terra é adequada apenas para pastagem. Como grande parte das emissões de metano do gado vem do próprio animal, a nutrição desempenha um grande papel na busca de soluções”, afirma Ermias Kebreab, pesquisador da Universidade da Califórnia 2.


Conclusão

A adoção de suplementos à base de algas marinhas representa uma revolução silenciosa, mas poderosa, no combate às mudanças climáticas via agropecuária. Com investimentos em pesquisa, produção sustentável e políticas públicas, o setor pode se tornar protagonista de uma nova era, aliando produtividade e responsabilidade ambiental.

Quer saber mais sobre como as algas podem transformar o seu negócio e contribuir para uma pecuária de baixa emissão? Fale com a equipe da Cia das Algas e descubra soluções inovadoras para o campo brasileiro.

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