Algas Brasileiras: Oportunidades e Desafios para uma Exploração Econômica Sustentável

Estudo da USP aponta o potencial inexplorado das algas marinhas brasileiras, abrindo caminho para biofertilizantes, cosméticos e alimentos. Mas, para deslanchar, o setor precisa de investimentos, tecnologia e soluções para a poluição costeira.

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As algas marinhas despertam cada vez mais interesse como matéria-prima para diversas indústrias, desde a alimentícia até a de cosméticos e biofertilizantes. Um estudo abrangente realizado pelo Instituto de Biociências da USP, com financiamento da FAPESP, revelou o vasto potencial das algas brasileiras, abrindo novas perspectivas para a exploração econômica sustentável desses recursos naturais.

O Brasil, com sua extensa costa e rica biodiversidade marinha, está diante de uma oportunidade única: transformar as algas marinhas em insumos estratégicos para a agricultura. Estudos recentes apontam que os compostos extraídos das algas têm potencial para aumentar a produtividade das lavouras, reduzir o uso de fertilizantes químicos e melhorar a saúde do solo. Mas como esse recurso natural pode beneficiar diretamente os produtores agrícolas e a indústria de fertilizantes? Vamos explorar essa questão.


O Mercado de Algas no Brasil: Uma Revolução em Curso

Desde os anos 1990, o Brasil tem registrado um crescimento significativo na demanda por produtos derivados de algas. Em 1994, o país importou US$ 13,5 milhões em produtos à base de algas, valor que cresceu exponencialmente nas décadas seguintes. Em 2024, as importações ultrapassaram US$ 180 milhões, impulsionadas principalmente pela busca por biofertilizantes e bioestimulantes naturais.

Esse aumento reflete uma tendência global: a agricultura está migrando para práticas mais sustentáveis. E as algas são protagonistas dessa transformação. Empresas brasileiras já começam a investir no cultivo e processamento local dessas plantas marinhas, visando atender à crescente demanda do agronegócio por soluções inovadoras e ecológicas. No mundo, o tamanho do mercado comercial de algas marinhas é estimado em US$ 19,09 bilhões em 2024, e deverá atingir US$ 28,29 bilhões até 2029, crescendo a um CAGR de 8,18% durante o período de previsão (2024-2029).


Avanços Científicos e Descobertas de Novas Espécies

O projeto temático da USP, com duração de quatro anos, aprofundou o conhecimento sobre quatro gêneros de algas vermelhas presentes no litoral brasileiro: GracilariaPterocladiaHypnea e Porphyra. Os pesquisadores identificaram duas novas espécies, uma de Porphyra no Espírito Santo e outra de Gracilaria presente em toda a costa brasileira. Além disso, o estudo permitiu compreender melhor o ciclo de vida, o sistema de reprodução e as técnicas de cultivo dessas algas em fazendas marinhas.


Biodiversidade Brasileira: A Chave para o Sucesso

O Brasil detém cerca de 20% do total de espécies de algas do planeta, com uma diversidade notável de macroalgas no litoral nordestino. Entre os grupos de macroalgas, destacam-se as algas vermelhas (Rhodophyta), as algas pardas (Phaeophyceae) e as algas verdes (Chlorophyta). Essa variedade, combinada com as condições climáticas favoráveis, como fortes ventos, correntes e marés, resulta em um grande acúmulo de algas arribadas, que são algas que se desprendem do substrato natural e se acumulam nas praias.

A exploração sustentável dessas algas arribadas representa uma oportunidade para diversas aplicações, como adubo orgânico, bioadsorventes, fonte de compostos bioativos, produção de gás metano, rações para animais e biofilmes biodegradáveis.

  • Algas Vermelhas (Rhodophyta): Ricas em polissacarídeos sulfatados como carragenana, são ideais para formulações bioestimulantes que aumentam a resistência das plantas ao estresse salino e hídrico.
  • Algas Pardas (Phaeophyceae): Contêm altos níveis de ácido algínico, utilizado para melhorar a retenção hídrica no solo e promover o crescimento uniforme das culturas agrícolas.
  • Algas Verdes (Chlorophyta): Excelentes na remoção de nitratos em sistemas aquícolas e como fonte sustentável de aminoácidos essenciais para as plantas.


O Que as Algas Têm a Oferecer à Agricultura?

As algas marinhas são ricas em compostos bioativos que podem ser aplicados diretamente na agricultura. Entre os principais benefícios estão:

  • Bioestimulantes Naturais: Compostos presentes nas algas, como citocininas, auxinas e giberelinas, promovem o crescimento das plantas, fortalecem as raízes e aumentam a resistência ao estresse hídrico e térmico.
  • Melhoria da Qualidade do Solo: Polissacarídeos sulfatados presentes nas algas ajudam a reter água no solo e estimulam a atividade microbiana benéfica.
  • Redução do Uso de Fertilizantes Químicos: Biofertilizantes à base de algas podem complementar ou substituir parcialmente os fertilizantes tradicionais (NPK), reduzindo custos para o produtor e impactos ambientais.


Exemplos Práticos no Campo

  1. Cana-de-Açúcar: Estudos realizados pela Embrapa em 2023 mostraram que bioestimulantes extraídos da alga Kappaphycus alvarezii aumentaram em 22% a produtividade da cana-de-açúcar ao estimular o desenvolvimento radicular e melhorar a absorção de nutrientes.
  2. Soja no Cerrado: Biofertilizantes à base de Ulva lactuca reduziram em até 30% o uso de fertilizantes químicos em cultivos de soja, mantendo altos níveis de produtividade e melhorando a qualidade do solo.
  3. Hortaliças: Extratos líquidos de algas aplicados via fertirrigação em hortaliças resultaram em maior uniformidade dos frutos e redução do ciclo produtivo em até 15%.


Aplicações e Benefícios das Algas Brasileiras

As algas marinhas oferecem uma gama diversificada de aplicações e benefícios, impulsionando diferentes setores da economia:

  • Alimentação: algumas espécies de algas, como a Porphyra (gênero da alga Nori japonesa), podem ser consumidas in natura ou utilizadas como ingredientes em diversos pratos.
  • Cosméticos: o alginato, extraído de algas, é utilizado na fabricação de cosméticos, cremes e outros produtos de beleza devido às suas propriedades hidratantes e antioxidantes.
  • Biofertilizantes: a alga Kappaphycus alvarezii destaca-se por gerar grande quantidade de biomassa e capturar CO2, tornando-se uma excelente fonte natural de biofertilizantes para a agricultura e produção de biocombustíveis. Uma empresa no Brasil está ampliando o uso de algas para produção de bioinsumos, visando um faturamento de R$ 100 milhões neste ano.
  • Redução de Metano: estudos apontam que a alga marinha vermelha pode ser utilizada como suplemento alimentar para bovinos, reduzindo as emissões de metano em até 60%.
  • Biopolímeros Funcionais: A combinação de alginatos de Macrocystis pyrifera (cultivada em SC desde 2022) com nanocelulose de eucalipto gerou filmes com condutividade iônica de 12 mS/cm², aplicáveis em baterias de íons de sódio (LNLS-CNPEM, 2024).


Análises Bioquímicas

As algas marinhas possuem uma ampla gama de compostos bioativos naturais, incluindo substâncias promotoras de crescimento de plantas, com atividades semelhantes às citocininas, auxinas e giberelinas. A decomposição de polissacarídeos presentes nas algas origina oligossacarídeos, que, em baixas concentrações, podem estimular o crescimento, aumentar a assimilação de carbono e nitrogênio, e elevar o nível de compostos com efeito antimicrobiano.

Tanto substâncias fenólicas quanto polissacarídeos sulfatados presentes nas algas exibem ação antioxidante eficiente, protegendo contra o estresse oxidativo causado por fatores abióticos como seca, salinidade e temperatura. A ação antioxidante natural de polifenóis e polissacarídeos sulfatados desempenha um papel importante na prevenção da peroxidação lipídica.

As análises bioquímicas realizadas em algas revelam a presença de diversos compostos ativos, como polifenóis, polissacarídeos sulfatados, aminoácidos (incluindo micosporinas), hormônios ou bioestimulantes (como citocininas, auxinas e giberelinas), além de macro e micronutrientes essenciais.


Tendências para 2025: O Que Esperar?

O mercado agrícola brasileiro está cada vez mais alinhado às práticas sustentáveis exigidas pelo mercado internacional. Para 2025, algumas tendências se destacam:

  1. Bioeconomia Circular: Fazendas integradas que combinam cultivo de algas com aquicultura (como peixes ou camarões) estão ganhando força no Brasil. Esses sistemas permitem reciclar nutrientes entre os organismos cultivados, reduzindo custos operacionais e impactos ambientais.
  2. Biorrefinarias Costeiras: Unidades industriais modulares estão sendo desenvolvidas para extrair compostos valiosos das algas (como ficocianinas) antes que os resíduos sejam convertidos em biogás ou fertilizantes sólidos para aplicação direta no campo.
  3. Créditos de Carbono Azul: Fazendas marinhas brasileiras podem se tornar grandes sumidouros de carbono, contribuindo para programas globais de compensação ambiental enquanto geram renda adicional aos produtores rurais envolvidos no cultivo sustentável das algas.


Desafios e Oportunidades para o Crescimento do Setor

Apesar do grande potencial, a exploração econômica das algas brasileiras enfrenta alguns desafios importantes:

  • Falta de Investimento: é necessário um maior aporte de capital financeiro empresarial para viabilizar a produção em larga escala e modernizar as técnicas de cultivo.
  • Poluição Marinha: a poluição das áreas costeiras, como as Baías de Guanabara e Santos, impede o cultivo de algas em larga escala, pois elas podem acumular metais pesados.
  • Tecnologia e Inovação: é preciso investir em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias para otimizar o cultivo, a extração e o processamento de algas, garantindo a qualidade dos produtos e a sustentabilidade da produção.


Para superar esses desafios e aproveitar as oportunidades, o Brasil precisa de:

  • Incentivos Governamentais: criação de políticas públicas que incentivem a pesquisa, o desenvolvimento e a produção de algas marinhas, como linhas de crédito, incentivos fiscais e programas de apoio à inovação.
  • Parcerias Estratégicas: estabelecimento de parcerias entre universidades, empresas e governo para promover a transferência de tecnologia, o desenvolvimento de novos produtos e a capacitação de profissionais.
  • Conscientização e Educação: promoção de campanhas de conscientização sobre os benefícios das algas marinhas e a importância da preservação dos ecossistemas marinhos.


Cia das Algas: Pioneirismo e Inovação no Mercado Brasileiro

A Cia das Algas se destaca como uma empresa pioneira no mercado brasileiro, comprometida com a exploração sustentável das algas marinhas e o desenvolvimento de produtos inovadores e de alta qualidade. Através de parcerias estratégicas com universidades e centros de pesquisa, a Cia das Algas investe em tecnologia de ponta e processos de produção eficientes, garantindo a rastreabilidade e a pureza de seus produtos.

O Brasil tem a oportunidade de se tornar um protagonista na produção e comercialização de algas marinhas, impulsionando o desenvolvimento econômico, social e ambiental do país. Para isso, é fundamental que empresas, governo e sociedade unam forças para investir em pesquisa, tecnologia e práticas sustentáveis, transformando o potencial das algas brasileiras em realidade.

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